sábado, 18 de outubro de 2008

capítulo 1

A primeira vez que Doutor Sade chegou à frente do edifício, demorou-se um pouco a olhá-lo. Era o típico complexo industrial do século XIX, escondido atrás de grades cinzentas cobertas de uma ferrugem triste. Mas ele acabou de fumar o seu cigarro, avançou o átrio e entrou no edifício. Logo ali, cruzou-se, sem reparar, com Barão Vermelho.
Há alguns meses, encontrara Veteraníssima Von Sherman em Espinho, onde sempre passavam férias e onde, de resto, se tinham conhecido através de uma amiga comum, e ela falara-lhe do Barão Vermelho. Tinham-se encontrado certa tarde numa das esplanadas da praia, quando Doutor Sade dissera à amiga que pretendia ingressar na empresa onde esta há vários anos trabalhava. A conversa sobre Barão Vermelho, o mui respeitado director da empresa, surgira aí. Von Sherman traçou o retrato do homem que, apesar da sua austeridade, tinha uma enorme queda para o alcóol. Não caía dentro das bebidas, as bebidas é que, de alguma forma, caíam dentro dele, mais precisamente da sua barriga que, não ao acaso, começava a ficar protoberante. Mas o que de interessante havia neste vício era o seu resultado: a revelação de uma espantosa veia literária. Sentado nos tascos, nos bares ou nas boîtes, Barão Vermelho, que na altura não tinha o cargo que agora tem, redigia imaginosos contos onde não deixava de ser óbvia a leitura prévia de Poe e de Kafka. Enviava-os depois aos membors da direcção, anonimamente. Estes, ao ler nestes horrores terríveisd ameaças apressaram-se a apresentar a demissão. Uma oportunidade de chegar à principal cadeira do Reino de Deus, nome pelo qual eram conhecidos os três gabinetes de direcção, que Barão Vermelho soube aproveitar como um lince ligeiro.
Veteraníssima Von Sherman proposera a Doutor Sade um encontro com Freira Laica, outra das directoras cuja história mais à frente conheceremos, mas, um tanto deinteressado, Doutor Sade regressara ao Porto poucos dias depois deste encontro.
De qualquer forma, agora que entra pela primeira vez, Doutor Sade nem repara em Barão Vermelho, pois logo avista Doutora Prazeres, amiga de longa data e seu par como debutante. Estavam adiantados na hora, pelo que ainda puderam trocar algumas palavras que não vale a pena reproduzir. No entanto, foi tempo suficiente para verem entrar Dona Pranto e Dona Calores, duas das "mulheres-a-dias", assim chamadas por só períodicamente terem que se deslocar á empresa.
Este primeiro dia serviu para, guiados por Conde Azul, de quem iremos ouvir falar, ficarem a conhecer o funcionamento e as instalações da empresa, tendo avistado tudo, desde o Reino de Deus às salas das Mulheres-a-Dias, além de terem sido apresentados ao primeiro projecto em que iriam trabalhar, em conjunto com Doutora Devassa e Doutora Crepe, que ambos já conheciam há muito.
Destas pessoas falaremos de seguida.

4 comentários:

Graça Martins disse...

ADOREI. QUERO MAIS...
É a primeira vez que visito o Fado Malandro e fiquei dependente.
Palpita-me que vai ser uma história de arrasar.

Anónimo disse...

Gosto das cores. É como a sala vermelha do Twin Peaks.

Anónimo disse...

veremos o que se segue... o Barao Promete

Juane disse...

vou voltar, gostei e quero mais